- Sou uma aldrabona

 
 - Então?
 
 - Uma colega minha recomendou-me uma música e fui ao youtube ouvi-la. Não gostei nada, ela é toda do Rock e não é a minha cena. Entretanto tirei os phones e tive uma reunião, andei a mil. Quando voltei para o computador, vi que ainda tinha o youtube ligado, não parei com a música, sabes? Estava já nem sei em que música estava mas, pelo aspecto do clip, continuava longe do meu género. Nisto, passou por mim o Rui, o jeitoso da informática, e disse: “Ah, gostas deles? Que fixe, tenho todos os álbuns.”
 
 - E tu disseste que sim, que gostas.
 
 - Claro. Sou uma aldrabona.
 
 - E que banda é que era?
 
 - Não sei. Fiquei numa de “venho cá depois ver” mas não pus pause, aquilo continuou a dar músicas diferentes e não faço ideia o que era.
 
 - Portanto tu e o Rui literalmente não ouvem a mesma música.
 
 - Exacto.
 
 - Óptimo, assim têm imenso a aprender um com o outro.
 
 - Não sei se estás a gozar ou…
 
 - Mais ou menos. Mas tens uma paixão platónica por um colega do qual não sabes nada e ficaste a saber que, em termos de música, não terão o mesmo gosto.
 
 - Confere.
 
 - Bom, também não vejo isso como obstáculo. O obstáculo que eu vejo é outro.

 - Qual?

 - Ainda perguntas? Tu! Não há meio de lhe dares a entender que lhe achas graça, ou mesmo desafiá-lo tu para um café, ou…

 - O que seria?

 - Lá está.

 - O quê?

 - Obstáculo.

 - Não estás a ajudar. 

 - A ideia era ajudar. Era estimular-te a fazeres alguma coisa.

 - Vou ouvir rock, já é fazer alguma coisa.

 - Hahaha, tu é que sabes. Mas isso é uma boa ideia, ouvir youtube enquanto trabalhas, estou farta desta sala cheia de barulho.

 - Vivam os Open Spaces.

 - Estás a ser irónica mas olha que, se estivesses num gabinete, o Rui não passava por trás de ti.

 - Bem visto.

 - Bem visto era…

 - Já sei.