Unhas de gel
Não era com frequência, mas de vez em quando arranjava as unhas no cabeleireiro com verniz “normal”. No entanto, mesmo pagando antes, para evitar ter de pôr a mão na carteira com as unhas a secar, ou eram as chaves do carro, ou era o cabelo que de repente ficava lá colado, ou era qualquer coisa não identificada mas nunca chegava a casa com o verniz normal em bom estado. Muitas vezes também se devia à falta de paciência de ficar 10 minutos parada enquanto elas secavam. Até porque nem sempre os 10 minutos chegavam. E se fui arranjar as unhas, provavelmente é porque fui fazer nuances, ou mais recentemente, raízes, ou seja, demasiado tempo no mesmo sítio...
Mesmo tendo descoberto que levar um livro é uma óptima vantagem porque, em vez de estar duas horas de castigo num cabeleireiro (sim, no fim sempre compensa, a sensação, quando estamos prontas, é maravilhosa – cabelo sem raízes, meia perna lisinha, enfim, todas sabemos), de repente tens duas horas para ler, o que, sobretudo para quem tem filhos, é um luxo quase maior do que conseguir ir ao cabeleireiro. No entanto, tinha de haver um entanto: muitas vezes achas que ler é antipático porque a rapariga que te está a tratar do cabelo é faladora/simpática, ou quando são as unhas, não podes estar agarrada ao livro e ir trocando as mãos, enfim, há toda uma gincana nestes programas...
Eis então que experimentei o gelinho aka verniz de gel: ma-ra-vi-lha.
Saio de lá e posso procurar as chaves de casa na confusão da minha carteira (sim, já tenho porta chaves grande e mil chaves juntas mas, acreditem, continua a ser um desafio encontrar o que quer que seja lá dentro). (E sim, digo carteira em vez de mala. Para mim, mala é de viagem. E essa, infelizmente, uso com muito menos frequência).
Mas com o verniz de gel posso pagar depois, posso ajeitar o cabelo, cozinhar e dar banhos. E até esfregar cola de uma superfície qualquer, que tudo se mantém.
O problema (lá está, no entanto), é que tenho realmente N coisas para fazer. Banhos, loiça, cola em superfícies estranhas (imaginem uma etiqueta das aquelas que saem mal do alguidar ou até do livro que acabaram de comprar? Não é assim tão estranho). Pelo que as 3 semanas prometidas para o verniz de gel não são reais para mim. Uma semana ok, duas... já estalou naquele cantinho e eu tenho uma necessidade de... é mais forte do que eu... só este bocadinho e... começo a descascá-lo.
Não roo unhas, não descasco paredes de cortiça (o meu irmão gémeo fazia-o no infantário, daí a ocorrência deste exemplo), mas, minhas amigas, descascar verniz de gel... Até porque, a partir do momento em que tens uma unha estragada, fica estranho as outras estarem bem. E entretém, em momentos mortos, ou quando estou a pensar em alguma coisa ou à espera de algo. Enfim, há tempo para tudo. O problema é que isso dá ainda mais cabo das unhas (já referi que as minhas parecem de papel e que, basta abrir a tampa de um champô com a do polegar, que fica partida?). Outra vantagem do verniz de gel: elas parecem mais fortes. Nota: parecem. Porque as minhas continuam a partir-se. Lá se foi o glamour do meu branco leitoso ou encarnado brilhante.
Além disso, mesmo não descascando, quando voltei ao cabeleireiro para tirar o verniz, a própria senhora disse-me que, dada a fraca qualidade das minhas unhas, era melhor tirar e não colocar uma terceira vez seguida.
Tenho amigas que usam verniz de gel há anos. A natureza sempre foi injusta. Sou míope. Muito. Não podia ter umas unhas - e um cabelo, já agora, já que estão ligados - fantásticos? Enfim.
Foi então que decidi experimentar o gel. Não gelinho, unhas de gel, mesmo. Aquelas que sempre achei horríveis porque ficam muito mais altas do que as unhas naturais e, quando crescem demasiado, dá mau aspecto. Mas experimentei com a promessa que elas não me façam parecer uma bruxa e, realmente, parecem naturais. As mesmas vantagens do gelinho, e mais: estas não dão para descascar. Fiz uma vez. Três semanas depois de novo. O problema é quando tens de adiar uma "renovação" ou "manutenção" e de repente estás com metade da tua unha natural e a outra metade tem a cor brilhante maravilhosa.
O que me leva então a outras desvantagens das unhas de gel:
- Nem sempre consegues ir ao cabeleireiro;
- Creme no corpo: aquele momento que sabes – e gostavas – que fosse diário a seguir ao duche mas na verdade fazes quando o rei faz anos ou é sábado e tens mais tempo porque ainda estão todos de pijama. Ou quando estás de férias e tens mais tempo porque estão todos a dormir. O que é que acontece? O creme fica debaixo das unhas. Portanto, além de espalhares o creme por todo o corpo e fazeres ginástica aos braços a tentar também apanhar todas as zonas das costas, no fim ainda tens de tirar o creme debaixo das unhas e espalhá-lo em algum lado que tenha escapado (podes sempre voltar a pôr nas pernas, porque já voltaram a secar – se pusesses creme todos os dias, se calhar isso não acontecia);
- Lentes de contacto: cuidado ao tirares as lentes da caixinha, a unha chega lá antes do dedo e é o dedo que deve tocar nas lentes frágeis e descartáveis – e se estás fora, provavelmente não levaste um par extra. Além disso, tens miopia mas também astigmatismo, ou seja, não são lentes que possas a comprar a correr numa loja perto de ti. Requerem encomenda e tempo de espera. Sim, tenho os meus óculos mas também tenho quase 6 dioptrias de miopia. Não me querem ver de óculos (confere, chama-se vaidade, obrigada);
- Festinhas nas costas dos miúdos: é na boa. Eles continuam a adorar e com as unhas grandes ainda melhor. Cuidado é com a unha partida (acaba por acontecer) que arranha;
Mais um pouco e começo a fazer barulho no teclado do computador ou a não conseguir escrever mensagens no telemóvel. Os dedos ainda chegam lá primeiro mas por pouco tempo. E aí sim, vou parecer uma bruxa. Vá, foi bonito enquanto durou mas se calhar vamos tirar as unhas de gel...
(Ou talvez não, porque quando vais lá tirar, lembram-te das vantagens iniciais...)
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